Lobo solitário: Sem equipe, Kellyton Azevedo – Ex Team Pinto - domina e vence prova de abertura do estadual na Master B.

Com um ataque anunciado e bem executado no finalzinho da prova, ciclista mostrou sua força e conquistou primeiro lugar no pódio.


Por Robson Teixeira e Sávio Freitas, para o portal Acre Pedal.


Kellyton Azevedo em competição na abertura do Campeonato Acreano de Ciclismo de Estrada/2024. Foto: Divulgação.


A abertura do Campeonato Acreano de Ciclismo de Estrada, temporada 2024, ocorrida no mês de março, vem sendo uma das mais badaladas dos últimos tempos. Novas equipes, forte rivalidade e grandes surpresas. Esses foram alguns dos ingredientes que aqueceram o início das competições na capital Rio Branco.

 

Para alguns, o clima ainda é de comemoração, para outros, é o momento de alinhar e corrigir erros e iniciar a preparação para a segunda etapa do estadual, que será realizada já no próximo dia 14 de abril. O percurso, antes definido para a estrada Transacreana, precisou ser alterado - por questões de segurança - para a Estrada do Aeroporto, em um tradicional circuito bastante utilizado pelos ciclistas para treinos e competições.

 

Antes de mergulhar na segunda etapa do estadual, nossa equipe foi conversar com o “Lobo solitário” Kellyton Azevedo, o “Keké”. O atleta mostrou um excelente desempenho na abertura da temporada, mesmo correndo de maneira individual. Morador da capital Rio Branco, ele coleciona bons desempenhos em provas de estrada e no Mountain Bike. Contudo, a Equipe Team Pinto, a qual Keké pertencia, foi extinta no final da temporada 2023, o que deixou o atleta sem contrato.

 

Keké largou sozinho e não deu moleza para os adversários. Foto: Divulgação.


Sem equipe e tendo que reorganizar seu planejamento, Kellyton não desanimou, reformulou sua rotina de treinamento, manteve-se motivado e mostrou que está na briga pelo título na categoria Master B. Durante a prova na Amadeo Barbosa Kellyton foi visivelmente superior à seus adversários, dominando a prova do início ao fim e chegando à linha em primeiro lugar.

 

Em uma entrevista exclusiva ao Acre Pedal, Keké falou sobre o fim da equipe, suas ambições como atleta e planos para 2024, confira!

 

Abertura do Estadual Acreano de Ciclismo 2024


O ciclista expressou sua alegria em participar da categoria onde começou sua jornada no esporte, enfatizando a presença de amigos próximos e atletas de destaque, o que proporciona uma sensação ainda maior de felicidade. "Estou muito feliz em estar participando da categoria onde estão os atletas principais onde eu iniciei no ciclismo, muitos amigos próximos, isso dá uma felicidade há mais para gente."

 

Ele ressaltou o alto nível dos competidores, destacando que, apesar de ser a primeira etapa, o condicionamento dos atletas tende a melhorar ao longo do ano. "O nível dos atletas está em ascensão ainda, como é a primeira etapa, com o decorrer do ano o condicionamento dos atletas vai melhorando. São cinco etapas então tem muito chão para correr ainda."

 

Sobre seu desempenho na prova, o atleta considerou-o satisfatório, alinhado com o treinamento intenso que vinha seguindo. "O resultado que eu adquiri na prova foi satisfatório, foi de acordo com o treinamento que eu vinha seguindo, treino duro, corrida mais fácil, a gente fala assim."


Pódio final da categoria Marter B. Foto: Divulgação.


Ele revelou também ter realizado treinos intensos no início do ano para construir uma base sólida. Seus planos para evoluir incluem a participação em competições nacionais, sendo este seu principal foco para o ano de 2024. "Fiz uns treinos bem duros nesse início de ano para fazer uma base bem forte. Estou pretendendo evoluir mais ainda para poder participar das competições nacionais, que é o meu foco principal desse ano de 2024."

 


Saída da Equipe Team Pinto


Atualmente com 40 anos, Keké afirmou que “correrá sozinho a temporada 2024, pois, segundo o atleta “trabalhar em equipe, para ele, é algo complicado”. “Em uma prova individual, quando você ganha ou perde, o assunto acaba ali”, destacou.

 

Kellyton relata que quando se corre com uma equipe, sempre há as críticas e discussões com os próprios companheiros, o que, na maioria das vezes deixa o clima pesado. Segundo ele, para evitar essas situações, prefere correr de maneira individual, sozinho.

 

Quando questionado sobre os motivos de sua saída e o fim da equipe Team Pinto, a qual ele fazia parte, Kellyton enfatizou que a equipe deixou de existir devido a problemas entre o líder e os outros ciclistas. Com os desentendimentos dentro do grupo, Kellyton optou por sair da equipe, ocasionando, segundo ele, a saída de outros atletas e, com isso, pondo um fim à equipe.

 


Trajetória como atleta e patrocínios


A trajetória de Keké no ciclismo começou em 1997, quando ele começou a pedalar com alguns amigos. No entanto, ele teve que fazer uma pausa na carreira de atleta, pois sofreu um acidente de ciclismo em 1999, o que gerou fraturas em seu rosto.

 

Durante essa pausa, Keké praticou outros esportes, como vôlei e futebol, mas sempre no âmbito amador. Aliás, foi justamente no vôlei que Kellyton teve outro grande problema, uma ruptura no menisco do joelho esquerdo, fato que exigiu mais uma cirurgia.

 

No pós-cirurgia, Keké, que tem 1,81m, chegou pesar 100 kg. Para fugir da obesidade e poupar seu joelho de grandes impactos, o atleta retornou ao ciclismo em 2012, onde permanece até hoje.

 

Pesando 81 kg hoje, Keke segue treinando com enorme intensidade. Os frutos dessa dedicação já começaram a ser colhidos logo na primeira etapa da temporada do estadual. Inclusive, durante a entrevista, ele fez questão de agradecer a seus patrocinadores, pois sem eles, “a coisa seria bem mais difícil”.

 

Atualmente, Kellyton possui três patrocinadores, a loja Vidrix, liderada por Davi Nogueira, o Hotel Guapindaia, comandado pelos sócios George Cruiff e Vanderléia e o restaurante Villa Gourmet, comandado pelo chef Lourival.

 

Abertura do Estadual em circuito montado na Av. Amadeo Barbosa. Foto: Divulgação.


Quando corria em equipe, Kellyton assumia uma posição de “gregário”, aquele ciclista que tem como objetivo principal, dentro de uma competição, levar o ciclista principal para a linha de chegada. Nessa função, seu trabalho era auxiliar os capitães das equipes a conseguirem melhores resultados em provas e campeonatos.

 

Kellyton relata que este ano, correndo sozinho, deixará esta função de lado, e terá um único objetivo: “Chegar na frente”, fato este que foi bem executado na primeira etapa de estrada na Amadeo Barbosa. Para completar, ele afirmou que, dessa maneira, para obter bons resultados nas provas, ele precisa se preparar bastante, pois, dentro do circuito, sozinho, “apenas ele mesmo pode se ajudar”.

 

Kellyton conquistou vitória com grande vantagem. Foto: Divulgação.



Trabalho e vida de atleta

Apesar de ter uma vida dedicada ao ciclismo, Keké Azevedo também é servidor público. Atualmente, o ciclista é funcionário do IFAC - Instituto Federal do Acre, instituição atrelada ao Ministério da Educação. Kellyton afirma que em alguns dias, ele pode trabalhar de maneira remota e isso ajuda bastante em seus treinamentos. “gerou maior flexibilidade nos horários e permitiu fazer treinamentos diários a partir das 17h”, comenta.

 

“Quando o trabalho era 100% presencial, era preciso treinar pela manhã e ir direto para o Instituto à tarde”. O atleta afirmou que levava várias peças de roupas em sua mochila, pois tomava banho e se trocava no próprio trabalho. Em vários dias, ele era “obrigado a acordar de madrugada para treinar”, o que tornava seu dia mais cansativo.

 

Com novo horário de trabalho, o ciclista dispôs de mais tempo para treinar, o que, segundo ele, melhorou suas performances. Com isso, além de buscar torneios estaduais, o ciclista pretende ainda correr em competições nacionais, sempre pensando no top-10. Aliás, o atleta deixou claro que pretende “concorrer com os melhores do Brasil em sua faixa etária”.

 

Um ponto interessante abordado por Keké foi a comparação entre o esporte amador e o esporte competitivo (profissional). Segundo ele, o ciclismo amador melhorou sua qualidade de vida, pois o fez ficar mais saudável e “reduziu a gordura em seu corpo”.

 

Por outro lado, Kellyton diz que o esporte competitivo não é assim tão bom para o corpo, como a grande maioria das pessoas acredita, pois faz o atleta chegar ao seu limite e até mesmo superá-lo, o que pode gerar várias lesões. Segundo o ciclista, “nem sempre o corpo humano consegue aguentar tanta carga [de treinos e provas]”.

 

Premiações e conquistas no ciclismo


Provando mais uma vez que gosta de correr sozinho, Keke reiterou que suas maiores conquistas foram em provas individuais. Inclusive, ele ganhou o Campeonato Acreano de MTB XCM (2022) e foi vice-campeão acreano no XCM Elite (2023), ambos em provas solo. Atualmente, o ciclista compete nas categorias Master B1 (eventos nacionais) e Master B (eventos estaduais). Sua vitória na abertura do Campeonato Acreano de Ciclismo de Estrada, temporada 2024 foi justamente na categoria Master B, mostrando sua especialidade e excelente condicionamento físico, já no início das competições.

 

Keke Azevedo (2º colocado) no pódio do 4º GP de Ciclismo Berço do Madeira/RO. Foto: Acervo do atleta. 


Além disso, ele afirmou que “o maior desafio do ciclismo é correr em equipe”, pois as brigas e discussões dificultam o trabalho. Segundo ele, juntar pessoas com pensamentos e opiniões diferentes gera vários atritos, o que é bem desgastante.

 

Para encerrar, Keké explicou que ser “gregário” impedia que ele corresse de forma competitiva. Afinal, sua função era apenas ajudar outros atletas, não competir com eles. Aliás, esse foi o principal motivo dele deixar a equipe Team Pinto, pois “estava com saudade de competir por vitórias”.

 

Planos para 2024


Para 2024, Kellyton Azevedo diz estar totalmente focado na seletiva da Copa Norte/Nordeste, datada para agosto. Por isso, ele aumentou seus períodos de treinamento, pois além de participar da competição, seu objetivo é ser top 10 no torneio. Ademais, ele também afirma que participará do Campeonato Brasileiro Master, que ocorrerá em Cuiabá/MT em setembro, onde o objetivo também é o top 10.

 

Entretanto, além dessas duas competições, Kellyton deixou claro que participará de outros torneios “caso surja oportunidade”. Inclusive, o atleta está buscando mais patrocinadores, pois, mesmo sendo grato à seus atuais apoiadores, o ciclista afirma que precisará de mais recurso financeiro para correr nessas duas competições.

 

“Se deslocar de um estado para outro levando equipamentos de ciclismo é bem caro, o que dificulta a vida do atleta” comenta Kellyton.  Ele lembra que o apoio da mídia no ciclismo ainda é pouco explorado, o que dificulta a ainda mais a captação de novos patrocinadores.

 

No entanto, o atleta não perde a esperança, pois acredita que “ainda existem empresários que querem apoiar a modalidade e expor suas marcas em eventos de ciclismo”.

 

Kellyton pretende participar da Copa Norte/Nordeste de Ciclismo 2024. Foto: Divulgação.



Agradecimentos a família

Para encerrar a entrevista, Kellyton Azevedo agradeceu à sua esposa, Sandra Ferlim, por todo apoio que recebe diariamente. Inclusive, o ciclista afirmou que, em muitos momentos, é ela que o incentiva a treinar, especialmente quando ele está desanimado.

 

Além disso, o atleta enfatizou que seus pais “sempre ficam felizes com suas pequenas conquistas”, o que significa muito para ele. Por fim, ele agradeceu “as pessoas do meio do ciclismo que sempre apoiam seu trabalho”, especialmente os empresários que contribuem com os patrocínios.

 

Por Acre Pedal – O portal do ciclismo acreano.

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