Inclusão: Após perder uma perna em acidente de moto, “Josué Cyborgue” supera desafios e encontra no ciclismo uma nova oportunidade para recomeçar.

Ciclista já participou de três edições do Acre Race, maior prova de MTB da Região Norte, realizada no Acre desde 2019. Em 2021 o atleta conquistou a segunda colocação na categoria PCD, 130 km.

Por Marcelo Miguel, para o portal Acre Pedal.

Josué Ciborgue/Equipe GOB em competição no Acre. Foto: Divulgação.


O que torna o esporte tão essencial para a sociedade é o quão relevante ele é para a vida das pessoas, pois, além de ser o meio para uma vida mais saudável, também é uma ferramenta de transformação pessoal. A prática regular de atividade física traz inúmeros benefícios, tanto para o corpo, como para a mente.

 

Não faltam relatos de pessoas que sofreram algum trauma na vida e que, por meio do esporte, foram reabilitadas, tornando-se referências inspiradoras de superação e ressignificação para tantas outras. Assim é a história de Josué, conhecido como “Cyborgue”. Após um grave acidente de moto, e por conta de uma infecção, Josué perdeu uma das pernas. Após o trauma, ele encontrou no ciclismo de MTB o sentimento de pertencimento e de inclusão que precisava para recomeçar sua história.

 

“Na época quando estava na adaptação da prótese tinha muita timidez e vergonha de me comunicar com as pessoas devido a inclusão, mas o ciclismo tirou esse sentimento de mim. No meio ciclístico muitas pessoas são coração” relata o atleta.’


Josué em evento de inclusão realizado na UFAC. Foto: Divulgação.


Início no MTB


Josué iniciou no ciclismo tendo como principal objetivo a locomoção que, segundo ele, era muito mais acessível do que o transporte público.

 

“Antes eu utilizava transporte público e ia andando até o ponto de ônibus. Durante as caminhadas, as minhas pernas ficavam muito doloridas, por conta da prótese. No ciclismo não, eu simplesmente montava na bicicleta e não ficava com dor, a partir dai mudou minha vida’’destaca.

 

Na capital Rio Branco, a exemplo do interior e de grande parte dos municípios do Acre, é fácil perceber que “as magrelas” – bicicletas – são muito utilizadas como meio de transporte para milhares de pessoas. Seja para ir ao trabalho, escola ou ainda para realizar entregas por meio de aplicativos, a bicicleta, sem dúvida, é parte significativa da vida do acreano.

 

E foi no desconforto com sua perna adaptada, caminhando em seu trajeto de rotina e compromissos, que o gigante Josué chegou a conclusão de que a bike poderia trazer ganhos além do alívio de suas dores, ela poderia trazer também benefícios à sua saúde que, segundo ele, estava precisando de cuidados.

 

“A minha vida após começar os pedais mudou completamente” relata.

 

Com o tempo e já mais adaptado às pedaladas, Josué ingressou em um grupo de ciclismo da capital Rio Branco. O atleta começou a pedalar em trechos conhecidos como Contornos das BRs, Estrada do Aeroporto - Com a tradicional parada no “geladinho do Gaguinho - dentre outros percursos. A partir dessas vivências, Josué foi cada vez mais se desenvolvendo e se desafiando no esporte, até ingressar nas competições de MTB.


Josué Ciborgue em tradicional pedal Contorno das BRs. Foto: Acervo do ciclista.


Uma palavra que se resume a trajetória de Josué nos campeonatos de MTB é superação. O ciclista relatou à nossa equipe jornalística que acreditava que por não possuir umas das pernas, encontraria desvantagem perante os seus concorrentes, ele acreditava que com sua prótese de metal, não teria a mesma força dos seus rivais.

 

Como não havia categoria PDC, Josué disputou sua primeira prova juntamente com os outros atletas, típicos da categoria denominada Búfalo - acima de 100 kg. Em sua primeira participação, Josué alcançou o topo do pódio, conquistando a vitória e quebrando todos os seus receios e medos a respeito de sua condição, como o mesmo relata:

                                                                                                                                            “Como a minha comorbidade era na perna, e a perna requer muita força, quando eu comecei, eu achava que eu não ia ter muita força, não ia acompanhar as pessoas. Mas, pelo contrário, eu competia de igual para igual com as outras pessoas, inclusive, eu botava até muita gente no bolso’’, afirma.

 

Esse início na competição marcou um novo ciclo na vida de Josué, repleto de alegrias e boas recordações. O ciclista lembra com carinho as alegrias que teve ao participar das competições de MTB organizadas pela Federação Acreana, o incentivo à inclusão para pessoas deficientes, dentre outras coisas.

 

O atleta teve ainda uma grande participação em uma das maiores provas de MTB da região Norte, realizada na capital Rio Branco - O ACRE RACE - competição esta em que Josué conquistou, no ano de 2021, o segundo lugar na categoria PCD, com o percurso de 130 Km, e ainda, conquistando o terceiro lugar no desafio CASA ARAÚJO, categoria Búfalo. Josué já participou de três edições do Acre Race.


Ciclista conquista primeiro lugar como novato em sua primeira competição. Foto: Acervo do atleta.


Momento atual

 

Josué encontra-se em uma pausa temporária das competições. Segundo ele, motivada principalmente por deveres familiares e profissionais. Josué é educador físico, mas não deixou o MTB e os pedais longões com sua Equipe - GOB -  formada por um grupo de amigos da capital Rio Branco.

 

O nome da equipe/grupo de ciclismo GOB surgiu por influência do nome de uma famosa série, como relata o atleta.

 

Um amigo nosso, que era policial militar, assistia muito a série “Game of Thrones”. A partir daí, ele pegou só a parte Game, e colocou “Bike”, e ficou o nome GOB (Game of Bikes). Então ficou a equipe GOB. É um grupo bastante conhecido aqui no estado e principalmente em Rio Branco” comenta.

 

A equipe GOB reúne hoje vários atletas e é a única do estado do Acre que conta com dois atletas PCD competindo na mesma categoria dos demais, sendo um deles Josué. O ciclista conta que a equipe vem crescendo e participando com expressividade em vários campeonatos da região.

 

“É uma equipe organizada, que vem trabalhando a inclusão. É a única equipe do estado que tem dois atletas PCD da mesma categoria. Um se chama Altevi, e o outro Josué, que sou eu. Estamos fazendo um trabalho de incentivo para chamar outras pessoas a competir no nosso grupo, para crescer nessa categoria, que ainda é pouco vista no meio do esporte local’’, finaliza.


A história do acreano Josué nos mostra como ciclismo e o esporte no Acre, vem se desenvolvendo e tornando-se mais inclusivo, em todas as áreas. Josué encontrou na comunidade uma oportunidade para recomeçar sua história, enfrentar seus medos e superar seus próprios limites. Ele foi abraçado pela família do ciclismo, encontrando não apenas pessoas  para compartilhar um lazer, mas sim, grandes amizades que trazem a sensação de pertencimento, de inclusão. Um lugar para viver experiências e alimentar sonhos.

 

Por Acre Pedal – O portal do ciclismo acreano.


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