Pedalando na floresta: companheirismo no ciclismo do Vale do Juruá contribui para a superação de desafios pessoais.

Muito além do cicloturismo, a Tribo Bike vem crescendo e se destacando como uma comunidade de apoio e conexão entre ciclistas no coração da selva amazônica.

Por Rosane Dunand, para Portal Acre Pedal.


Membros da Tribo Bike na ponte do Rio Moa. Foto: Tribo Bike.


Oito meses após um encontro casual entre três ciclistas no Igarapé Preto, em Cruzeiro do Sul, nasceu a Tribo Bike (@bike_tribo), respondendo aos anseios por uma comunidade de apoio que possibilitasse aos ciclistas explorar a região de forma mais segura e animada, desejo esse não apenas dos fundadores, mas também de diversas outras pessoas da região do Juruá.


O início


Desde o início de 2023, quando Wiliane Pinheiro, de Cruzeiro do Sul, Orlenildo Dias e Macimere Rodrigues, ambos de Mâncio Lima, fundaram o grupo, o número de participantes vem aumentando constantemente. Atualmente, a comunidade já conta com mais de 35 membros que participam gratuitamente de atividades organizadas de ciclismo, tanto durante a semana quanto nos fins de semana.


Os pontos de encontros para os passeios ciclísticos se alternam entre Cruzeiro do Sul e Mâncio Lima. Durante a semana os percursos são curtos, variando entre 10 a 40 km, dentro de uma dessas duas cidades. E nos fins de semana, as pedaladas se estendem por distâncias maiores, com destinos intermunicipais ultrapassando os 40 km do local de partida. Alguns dos lugares visitados incluem Rio Gama (144,9 km), Liberdade (190 km), Guajará (100 km), Aldeia Puyanawa(90 Km) e Ramal do Polo (77 km).Essas jornadas mais longas incluem paradas para banho, piqueniques e apreciação das paisagens.


Apoio e pertencimento


A motivação dos membros do grupo, no entanto, vai muito além do ganho de força muscular,perda de peso ou melhora no condicionamento físico, já que o acolhimento emocional e o apoio motivacional estão entre as características únicas desta comunidade de ciclistas juruaenses.


“Encontrei na Tribo Bike um apoio e uma empatia que não tinha encontrado em lugar nenhum. A criação do grupo aconteceu em um momento difícil da minha vida, quando me sentia desamparada e não sabia qual caminho tomar. Pedalar em grupo me ajudou muito a voltar ao meu equilíbrio", cita Wiliane.


Em seu depoimento, Wiliane diz que a combinação de bike e comunidade é verdadeiramente excepcional, e não é a toa que o grupo tenha ganhado o nome de Tribo Bike, pois tribo reflete essa forte conexão entre os membros, uma comunidade unida e comprometida uns com os outros.


Qualidade de vida


"Posso falar por mim e por muitas outras pessoas que tenho acompanhado no grupo ao longo deste primeiro ano. Muitas vezes chegamos aqui nervosos ou preocupados com algo que não estamos conseguindo resolver na vida pessoal ou profissional e após algumas pedaladas, um pouco de companheirismo e de vivência na natureza nossa condição muda completamente".


Ela relata ainda que as pedaladas com o grupo, além de lhe trazer um grande bem-estar, tanto físico como emocional, trouxeram também um sentimento de pertencimento a um grupo, a uma família.


A experiência vivida por ela é bem representada no logotipo da Tribo Bike. “Ele reflete a diversidade de bicicletas e a singularidade de cada ciclista. Cada cor na corrente é uma expressão única, destacando a individualidade e paixão de nossos membros. Juntos, compartilhamos a mesma estrada, impulsionados pelo espírito colaborativo que define a essência do nosso grupo”, complementa Wiliane.


O logotipo da Tribo Bike representa bem a diversidade e o espírito colaborativo do grupo. Foto: Tribo Bike.


Macimere Rodrigues, cofundadora do grupo, compartilha da mesma experiência de empatia e força dos vínculos que se formam naturalmente nesta comunidade de ciclismo juruaense.


“Os laços que eu formei com os membros da Tribo Bike têm me ajudado muito a superar um dos maiores desafios da minha vida. Em outubro de 2023, sofri um acidente de moto que resultou na fratura da tíbia e lesão no joelho. Mesmo depois de vários meses de tratamento ainda estou em processo de recuperação, usando muletas e impossibilitada de voltar à atividade que mais amo: o ciclismo", diz Macimere.


A ciclista também relata que os amigos que fez na Tribo Bike têm sido seu apoio constante. "Eu encontrei suporte emocional e também ajuda para as questões práticas e materiais do dia a dia. Eles vêm me visitar quando fazem atividades ciclísticas pela cidade, me auxiliam com o que eu necessito, compartilham vídeos dos lugares que visitam sempre demonstrando que estou fazendo falta...enfim, se tornaram verdadeiros amigos. É assim que funciona o grupo: uma rede de pessoas unidas pelo amor à bike que se ajudam mutuamente a superar os desafios que a vida nos traz. Eu não me sinto só e nem desconectada do grupo, mesmo não podendo pedalar”, finaliza.


Macimere com membros da Tribo Bike que vieram visitá-la durante pedalada no município de Mâncio Lima. Foto: Tribo Bike. 


Apesar de promover a inclusão social e ter muitos benefícios comprovados pela ciência, como a melhoria do sono, concentração, humor e autoestima, além da redução do estresse, o ciclismo na região ainda enfrenta desafios significativos para alcançar seu pleno desenvolvimento. A falta de patrocínio, as dificuldades de locomoção devido à escassez de ciclovias nas cidades e o pouco respeito e conscientização por parte dos condutores de veículos motorizados, que compartilham as ruas e estradas com as bicicletas, são alguns deles.


Desafio das estradas acreanas


Além disso, os circuitos longos utilizando estradas estaduais e federais enfrentam muitas dificuldades relacionadas às más condições das rodovias, conforme mostrado na recém-divulgada 27ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, que expôs a triste realidade das condições das estradas do Acre: no requisito estado geral, 99,3% da malha rodoviária pavimentada avaliada do estado apresenta algum tipo de problema, sendo considerada regular, ruim ou péssima e somente 0,7% da malha é considerada ótima ou boa.


No requisito sinalização, 92,4% da extensão da malha rodoviária da região é considerada regular, ruim ou péssima, e apenas 7,6% é considerada ótima ou boa; 39,6% está sem faixa central; e 59,3% não tem faixas laterais. 


Membros da Tribo Bike na rodovia BR-364. Foto: Arquivo Tribo Bike.


No entanto, apesar desses desafios significativos, o crescimento da Tribo Bike neste primeiro ano de existência foi muito bom, atribuído principalmente à dedicação e atenção dada à elaboração e organização das atividades.


“Cada saída é minuciosamente planejada e preparada, prevendo paradas estratégicas para hidratação, descanso e alimentação, sempre com foco na segurança do grupo”, explica Wiliane. “No fim deste mês, por exemplo, estamos propondo o circuito mais longo até hoje: o “PEDAL IN BR 364”, uma pedalada de 240 km pela BR 364, tudo acompanhado de perto por um carro de apoio que estará pronto para auxiliar em qualquer necessidade. As nossas atividades são assim, cheias de emoção, conhecendo lugares por vezes de difícil acesso ou trilhas que nunca percorreríamos sozinhos, mas que com o grupo podemos explorar com segurança. Essa é uma das grandes vantagens do ciclismo em grupo”, diz Wiliane.


Integração entre os grupos de ciclismo do Acre


“O surgimento de novos grupos de ciclismo na região do Vale do Juruá é uma ótima notícia, pois não apenas fortalece a comunidade ciclística local, mas também beneficia todo o ciclismo do estado”, afirma Sávio Freitas, ciclista e fundador do portal(site) Acre Pedal.


“Quanto mais os grupos de ciclismo estiverem conectados e integrados, mais poderemos aprimorar o desenvolvimento da modalidade seja compartilhando informações sobre a prática do esporte ou condições das estradas e trocando experiências sobre destinos e rotas. Podemos também colaborar para impulsionar o cicloturismo, atraindo ciclistas de outras regiões, e trabalhar em conjunto para promover melhorias necessárias em nossa atividade. A união sempre nos fortalece”, conclui ele.


Por Acre Pedal - o portal do ciclismo acreano.


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